segunda-feira, 30 de maio de 2011

Os Sons da Matriz


Minha pequena homenagem à Cidade Garbosa, minha querida São João Nepomuceno, que foi publicada na Voz de São João.



Ainda com os olhos fechados, escuto 7 batidas e várias badaladas. O som familiar não deixa dúvidas: são o relógio e o sino da Matriz, acordei em São João Nepomuceno! Na mesma hora, uma mistura de cheirinho de infância, de aconchego e tranquilidade faz com que abra um sorriso que mais parece um sinal de cumplicidade com o tempo que não volta mais, porém, certa de que as lembranças fazem com que eu ainda tenha um pedacinho da terra.



Ainda na cama, o filme vai passando na minha memória do tempo em que era feliz e... sabia! E os sons da Matriz fazem parte de cada momento. Às 6h30, era hora de acordar para a aula no Judite de Mendonça e mais tarde no “Sôbi”. Batia 11 horas ! Saía correndo para casa porque o almoço já estava pronto. Mas antes do meio-dia, uma passadinha na vô Graciema para roubar um pedacinho do pudim de pão. Chego em casa e um pouco de descanso porque uma da tarde era hora de estudar.



E os “avisos” do meu companheiro do dia a dia não paravam. Tinha aula de piano, às 3 da tarde, com a Maria Alice e depois com a dona Leonor. À noite, hora das novelas, dos programas, das brincadeiras no adro da igreja e no jardim. Como me lembro das “escapadas” para a Tia Marisa onde brincávamos naqueles enormes corredores e gigantescos quartos do casarão! Mas, quando o relógio batia, já gritavam meu nome porque era hora de ir embora.

No final de semana, eles não descansavam: as badaladas do sino avisavam da missa; as batidas do relógio da hora de ir para o Campestre, do jogo do meu Mengão, de arrumar o material escolar e começar tudo de novo!

Na adolescência, não tinha escapatória: era o aviso que a diversão no “Kako” tinha acabado. Hora de ir embora, porque certamente a “dona Renée” estava esperando. E ai de não chegar conforme o combinado!!

Levanto da cama para aproveitar meu feriado. O sino avisa e chama para as celebrações da Semana Santa. Durante os 4 dias revendo amigos e parentes, relembrando boas histórias, rindo – ou na varanda de casa ou no Bistrot da Carolina – a mistura de sons da Matriz está lá, como marcando compasso e fazendo a contagem regressiva para a minha despedida, mas também convidando para um breve retorno.

Olho pela janela de casa vejo meus sobrinhos, meu filho e um grupo de crianças - filhas de amigas e amigos de infância - correndo pelo jardim. Agradeço a Deus por conseguirem aproveitar também esses momentos tão especiais.

Volto revigorada e pronta para retornar à realidade, mas aguardando uma nova oportunidade de acordar em Nepopó ! Termino este texto e olho pra cima. O relógio digital - impessoal e silencioso - da parede do meu quarto marca 7 da noite. Mas, quem viveu esses anos maravilhosos é capaz de sentir, bem no fundo do peito, as badaladas do sino e as batidas do relógio da Matriz.