terça-feira, 22 de fevereiro de 2011
Mais uma participação - Seminário de Gestão e Produção Cultural
Sérgio Gramático Júnior - escritor e jornalista
“Carnaval e o mercado literário”
Sérgio Gramático Júnior não esconde a paixão, principalmente, pelo carnaval, principalmente, aquele que se aproxima do povo, da sociedade. E o gosto pela folia foi além do simples divertimento como participante assíduo do bloco Barbas, que sai aos sábados pelas ruas de Laranjeiras. “ O Barbas acabava e nós ficávamos ali pelos bares da região, querendo esticar a festa. Um amigo começou a tocar tan-tan, cantando sambas de enredo antigos. O pessoal se juntou e cantou junto. Outro amigo teve a ideia do trocadilho: "este é o Re-barbas, a rebarba do Barbas", e assim surgiu o novo bloco que saiu informalmente durante alguns anos. Há 3 anos resolvemos fazer o bloco acontecer e chegou a reunir 600 pessoas.
E o envolvimento com as artes carnavalescas foi além da alegria das ruas e se materializou em obras literárias. “Eu precisava entregar a monografa do curso de jornalismo e pensei em falar do samba. Precisava comunicar o público algo que minha sociedade representa. Mas queria fazer um trabalho que mostrasse o samba do morro, o samba como realmente é”, explicou.
Mas, a ideia inicial não pode seguir adiante. O personagem deste trabalho seria Bezerra da Silva, porém o artista morreu. Nesse meio tempo, conheceu Waldeci Claudino, o Luquinha da Mangueira. Ao conversarem, o jornalista se encantou com a história do avô de Luquinha, Maçu da Mangueira, e resolveu dedicar a ele o estudo de sua monografia: alguém que não só representasse a cultura brasileira, mas tirar esse importante nome do samba do anonimato.
Maçu representou, durante 30, 40 anos o Morro da Mangueira onde era chamado de Valente, comparado hoje a dizer que era o dono do morro. E foi o primeiro mestre-sala da história das escolas de samba. “Nas escolas de samba não existiu ninguém antes do Maçu que tivesse não só bailado como mestre-sala mas junto com a porta-bandeira, o mestre sala protetor é uma figura que ele trouxe dos ranchos.”, ressaltou.
Com todo o trabalho de pesquisa que reuniu para que parte desconhecida da cultura brasileira fosse apresentada à comunidade, o escritor se deparou com a a maior dificuldade: o mercado literário.
“Propus a uma editora a edição e publicação. Aprendi na escola sobre relação de trabalho, que o trabalhador entrava com a força de trabalho e o dono da terra, fosse o Estado ou a iniciativa privada, com os meios de produção. Mas, isso não acontece”, lamentou.
Do total de 100 livros, explicou ele, 10 eram do autor, 30 da editora e 60 da distribuidora. “Que não tem o trabalho de pesquisar, revisar, escrever mas consegue concentrar um poderio tal que 60% é dela.”
Familiarizado com as nuances do mercado literário, Sérgio Gramático Júnior decidiu escrever mais um livro de poesia. Dessa vez teve que escolher uma editora alternativa, que fez uma tiragem muito menor . “Decidi escrever poesia sobre carnaval para trazer a visão sociológica, enaltecendo a festa em um capítulo e em outro fiz questão de escrever sobre personalidades que fazem o carnaval, não só como o Maçu, mas que estão aí e a mídia não dá o valor devido a elas”, ressaltou Gramático.
Optando por não fazer homenagens póstumas e sim aos que ainda estavam em atividade como Delegado da Mangueira, Ivone Lara, Haroldo Costa, Velha Guarda e bateria da Mangueira, João Roberto Kelly que é o grande autor de marchinhas contemporâneas, a receptividade foi muito grande, tanto dos homenageados que ficaram satisfeitos com trabalho como das pessoas que foram participar do lançamento.
A falta de material de pesquisa e de publicações sobre o carnaval é grande, segundo Sérgio Gramático. Por isso, destaca trabalhos como do jornalista Luiz Fernando Vieira que abre as portas da própria casa para oferecer aos interessados um vasto material, não só sobre carnaval, mas cultura brasileiro em geral.
Sérgio Gramático defende, com suas ações, que o carnaval deve e tem que ser uma festa popular. “O carnaval é uma inversão de 4 dias de tudo que a sociedade prega durante 1 ano. A sociedade prega que existe certo e errado, bonito e feio, são muitos modelos pré concebidos. A doméstica na casa da madame enfrenta uma hora e meia para chegar na casa dela, cansada, pra ser doméstica em casa também e acho interessante é que a madame que vem para avenida aplaudir a doméstica. E a doméstica aceita aquele aplauso com naturalidade, mostrando que aí sim existe democracia.”
E falando sobre a essência do carnaval, Sérgio Gramático Júnior lembra quando as festas de Momo não tinham ingressos, apenas arquibancadas populares e as escolas desfilavam separadas do público apenas por cordas. Relembrando os temos da cultura realmente para o povo, o escritor e jornalista sugere: “ Que tal uma escola de samba, um dia, vir na Praça Onze, desfilar sem cobrar ingresso. Sem todo o aparato financeiro, sem carros alegóricos? Viria para presentear o povo com a sua essência.”
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