sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Seminário de Gestão e Produção Cultural

Bom dia, amigos

Como já havia colocado aqui, minha querida turma de pós gradução em Gestão e Produção Cultural organizou como projeto final do curso um seminário onde reunimos excelentes profissionais em gestão, produção e carnaval. Para quem não foi pessoalmente e não conseguiu aproveitar um dia de troca de experiência fantástico, vou colocar aqui as participações dos nossos debatedores.
Começo por ninguém menos que Laíla, diretor de Carnaval da GRES Beija-Flor. Nos próximos dias vou colocando os demais.



                                                                           Laíla

“A arte, a organização e a defesa da volta do carnaval tradicional”

Considerado uma das personalidades mais conhecidas do carnaval carioca, ele é discreto, mas por trás da aparência séria e fechada está uma figura que se abre quando o assunto é o que domina como poucos.

Laíla “respira” carnaval desde criança. Natural do Morro do Salgueiro, na Tijuca, foi lá que viveu e aprendeu os primeiros passos da arte. A mãe era destaque e ele, aos 10 anos de idade, já participava de uma escola mirim. Laíla disse que a escola fez sucesso por muitos anos , mas começou a se desafazer depois que “os adultos se intrometeram” .

Com apenas treze anos de idade foi convidado a integrar a ala de compositores do Salgueiro, criado da união de três escolas de samba da comunidade. Disputou o primeiro samba-enredo e foi vice-campeão, assim como no ano seguinte. A partir daí, seguiu a caminhada pelas estradas do carnaval, isso por volta de 1959.

“Fui aprendendo, trabalhei com Fernando Pamplona em vários carnavais do Salgueiro como em 1962 com Descobrimento do Brasil. Rosa Magalhães e Maria Augusta, enfim, todo mundo era assistente dele”, lembrou.

Mas, Laíla ressalta que o pontapé inicial para a mudança do carnaval foi de Nelson de Andrade. “Quando todo mundo fazia Caixas, Tiradentes, ele fez Debret em 1959 e em 1960 fez Palmares e assim o Salgueiro se tornou forte. Ele mudou a cara do carnaval”.

No primeiro ano que assumiu a direção geral de carnaval, em 1967, o Salgueiro ficou em terceiro lugar com a História da Liberdade no Brasil; em seguida, na mesma colocação com Dona Beija. O primeiro campeonato veio em 1969 com Bahia de Todos os Deuses e seguiu sempre ficando entre os cinco melhores do carnaval carioca.

Em 1975, atendendo ao convite do presidente da honra da Beija-Flor, Aniz Abrãao David, o Anísio, foi para a escola de Nilópolis, juntamente com Joãosinho Trinta. Até então, era uma escola sem grandes resultados, mas, a era do anonimato estava para terminar com a chegada da dupla.

“A ida para Beija-Flor foi importante porque encontramos o que não conseguíamos no Salgueiro: trabalhar com a comunidade. Juntou a nossa vontade com tudo que queríamos fazer e com a ajuda financeira. “

Desde que se integrou à “família” Beija-Flor vieram muitas vitórias e sucessos. Viveu cada momento marcante do carnaval. Mas, agora está preocupado com os rumos da maior festa do planeta. Laíla fez duras críticas aos altos gastos que as escolas estão realizando e o abandono da tradição.

“ A Beija-Flor nunca perdeu sua origem, sua característica. Hoje o carnaval está muito caro por causa dessa loucura de grandes produções. As escolas estão gastando horrores, o que tem e o que não tem”, alerta.

O diretor de carnaval garante que, este ano, vai apostar em alegorias mais leves e na emoção, mas reconhece que é um risco. “ Estamos buscando os caminhos, mas a cada hora que tentamos ir para o carnaval tradicional sofremos críticas. Dizem que não vai vender ingresso, não vai ganhar. A Beija-Flor está buscando, mas e se a escola perder o título, ficar em quarto, quinto lugar. Aí ano que vem volta ao carnaval espetáculo. Não estamos preparados para perder, pelo trabalho da comunidade, pela inovação que conseguimos fazer como uma equipe de carnaval. Mas, será que estou certo em pensar nessa maneira?”, declarou.

A Beija-Flor veste, gratuitamente, 3 mil componentes da comunidade. Os ensaios e as bebidas têm preços populares e ao contrário de outras agremiações que cobram valores altos pela entrada nos ensaios que hoje são verdadeiros show, em Nilópolis, a arrecadação dos eventos é mínima. Tudo para garantir um acesso democrático e possível para todos, independentemente do poder aquisitivo.

A preocupação em conduzir de forma séria os trabalhos na agremiação se exemplifica no processo de escola do samba-enredo 2011 que homenageia Roberto Carlos. Laíla não se intimidou com a responsabilidade, mesmo tendo entre os sambas inscritos nomes ligados ao “rei” . “Não tem esse negócio de já ganhou . Nós recebemos 54 sambas para 2011, alguns não aceitamos porque não estavam de acordo. Aqui não é o nome é a obra, o talento”, afirmou.

Laíla terminou a participação no evento com uma reflexão. “Participei de todas as revoluções do carnaval, mas está na hora de pensarmos a questão. Esse carnaval espetáculo que está se propondo para 2011 será um carnaval muito perigoso. Este ano será decisivo e eu não sei onde isso vai parar.”

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