Quando pensei em criar este blog, a ideia principal foi de me divertir, exercitar um pouco mais a escrita - pois trabalho em rádio onde é a "arte de cortar palavras - postar coisas engraçadas, dar dicas etc. Mas, descobri também que tem muito mais possibilidade: a de falar e tratar temas sérios. Por isso compartilho com vocês uma experiência emocionante, gratificante e enriquecedora que tive.
Participei do Seminário de Capacitação da Rede de Radialistas pelo Enfrentamento à Violência contra a Mulher, realizado pelo Criar Brasil, com a parceria da Superintendência de Direitos da Mulher. Durante dois dias, representantes de várias rádios - grande parte comunitárias - estiveram juntos para debater o tema tão importante e que, infelizmente, ainda é uma chaga no nosso mundo. Ouvi histórias verdadeiras, depoimentos tristes, porém fortes, e experiências de como abordar o tema de diversas formas.
Felizmente - e espero que você que está lendo agora também - nunca sofri violência nem presenciei. Porém, quase posso afirmar que todo mundo conhece uma vítima ou, pelo menos, alguém que conheça.
E não pense você que a violência contra a mulher só acontece nas camadas pobres da sociedade. O que existem são diferenças quanto ao tratamento dado à situação. Um grita do muro, chama o vizinho e vai pra rua pedir socorro; o outro chama os advogados das partes para tratar a questão sem alarde porque é escândalo. Têm ainda aqueles que apareceram nos jornais porque são celebridades; mas boa parte - de todas as classes sociais - ainda sofre calada. "Ruim com ele; pior sem ele"
Alguns dados para você pensar e refletir:
- Mais da metade das mulheres não denuncia;
- A cada 15 segundos uma mulher é vítima de violência no Brasil;
- De cada 10 mulheres agredidas, 7 conheciam o agressor, uma pessoa que fazia parte de suas relações de afeto;
- Uma a cada 5 faltas de mulheres ao trabalho no mundo está relacionada á violência doméstica;
- A violência contra a mulher custa de 1,5% a 2% do PIB de um país.
(pausa para sua reflexão)
E aí? Ainda continua achando que não podemos meter a colher??
Lei Maria da Penha
Criada em 2006, depois de muitos anos de luta do movimento organizado por mulheres, esta lei protege as mulheres de violência doméstica e pune com mais rigor o agressor.
O nome é uma homenagem à farmacêutica Maria da Penha Maia Fernandes, que durante seis anos foi agredida pelo marido que tentou assassiná-la por duas vezes. Na primeira vez, ele ficou paraplégica depois de ser atingida por um tiro nas costas
Depois de 15 anos das agressões e tentativas de homicídio, nenhuma decisão da justiça e o agressor permanecia em liberdade. Foi aí que o Centro pela Justiça pelo Direito Internacional e o Comitê Latino-Americano de Defesa dos Direitos da Mulher, juntamente com Maria da Penha, formalizaram uma denúncia à Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA (Organização dos Estados Americanos).
A partir daí, com a exposição pública do caso, partiu-se para a discussão de uma lei mais rígida que não se limitava a "punir" o agressor com o pagamento de cestas básicas.
Violência contra mulher é crime. Denuncie!!
A violência não é apenas quando acontece agressão física através de beliscões, tapas, socos, pontapés, queimaduras etc. Também acontece de outras formas:
Psicológica - ameaças, acusações, críticas que apesar de não deixarem marcas aparentes, atingem a auto-estima.
Moral - xingamentos, comparações, ironias e ofensas.
Patrimonial - quando a mulher tem seus pertences, documentos e objetos destruídos.
Sexual - quando a mulher é forçada a manter relações sexuais com quem não deseja, ou quando não quer e faz o que não quer.
Em todos os casos é CRIME! Não podemos nos calar, temos que dar um basta nessa situação. Ninguém é dono de ninguém, a convivência é lado a lado e não um na frente do outro.
Portanto, o telefone da Central de Atendimento à Mulher e funciona em todo o país é 180.
Obrigada a todos e todas que fizeram parte desse encontro. Agradeço a troca, o aprendizado e a oportunidade de conhecer pessoas tão diferentes, mas com uma história de vida tão intensa e bonita.
Fontes:
Instituto Patrícia Galvão
Criar Brasil
Fundação Perseu Abramo
Querida Cynthia - A violência começa quando a mulher (assim como os negros) no mercado de trabalho recebe quantia inferior a do homem pelo mesmo trabalho executado ou mesmo por trabalho melhor realizado. A violência começa quando a mulher é apresentada como mercadoria de consumo e objeto sexual em nossos mercados. A violência começa quando a mulher é colocada como máquina de procriação (cinco, seis, sete filhos) sem que tenha condições econômicas para arcar com essa função. A violência começa quando criamos leis atrás de leis e deixamos simplesmente de utilizar o Código Penal, que bastaria para dar um basta em toda essa situação que você maravilhosamente descreve em seu blog. Por isso, há controvérsias... Muito papo e pouca ação. Por falar nisso, por onde anda aquele "jornalista" de costas quente que matou a repórter?
ResponderExcluirConcordo, meu amigo. Tudo que disse está associado a minha postagem e também foi apresentado no seminário que participei. Aliás, obrigada mesmo pelo seu comentário. Sozinho ninguém tem força. E nós, como comunicadores, temos que fazer a nossa parte. E é isso que estou fazendo. Quem sabe cada um colaborando um pouquinho não faça a diferença?
ResponderExcluirConcordo também que há muito papo e pouca ação. Mas, a Lei Maria da Penha já é uma gotinha neste oceano.
Obrigada pela colaboração.
Bjs